segunda-feira, 10 de novembro de 2008

KEN WILBER


Sim, a prática concreta é baseada em algo assim: dada a Grande Cadeia do Ser – que vai da matéria para o corpo, para a mente, para a alma, para o espírito – como podemos reconhecer, honrar e exercitar todos esses níveis em nosso próprio ser? E se o conseguirmos – se nos engajarmos em todos os níveis do nosso potencial – isso não nos facilitará relembrar a Fonte do grande Jogo da Vida, que não é outra senão nosso próprio Eu profundo (Self)? Se o Espírito é a Essência e o Objetivo de todos esses níveis, e se, em verdade, somos Espírito, o engajamento sincero em todos esses níveis não nos ajudará relembrar quem e o que realmente somos?

Bem, essa é a teoria, que, acho, coloquei em palavras muito secas. Concretamente, a idéia é: escolha uma prática (ou práticas) de cada um desses níveis e engaje-se sinceramente em todas elas. Para o nível físico você pode incluir ioga física, levantamento de peso, vitaminas, nutrição, corrida, etc. Para o nível corpo/emocional você pode tentar sexualidade tântrica, terapia que ajude a contactar o lado sentimental do seu ser, bioenergética, etc. Para o nível mental, terapia cognitiva, terapia narrativa, terapia da fala, terapia psicodinâmica, etc. Para o nível da alma, meditação contemplativa, ioga da divindade, contemplação sutil, oração centralizadora e assim por diante. E para o nível do espírito, as práticas mais não-dualísticas como o Zen, Dzogchen, Advaita Vedanta, Kashmir Shaivismo, misticismo cristão informe, etc.

Hesito em fornecer uma lista porque, como você sabe, há, literalmente, milhares de práticas maravilhosas para todos esses níveis e eu me arrepio com a possibilidade de excluir alguma. Mas, por favor, focalize simplesmente a idéia básica: assuma uma ou mais práticas para cada um dos níveis do seu ser – matéria para corpo, para mente, para alma, para espírito – e exercite todas elas da melhor forma possível, individual e coletivamente. Não só você, simplesmente, passará a sentir-se melhor no nível mundano, como também aumentará dramaticamente suas chances de começar a entender seu próprio Estado radical, que é o próprio Espírito, sua mais profunda identidade e impulso.

P: Atualmente, há professores para este tipo de prática integral?

KW: Bem, infelizmente, nos dias de hoje, ainda não há muitos professores. Em parte, este tipo de prática integral é uma união do Ocidente com o Oriente, e eles foram apresentados um ao outro só recentemente. Mas há professores estupendos trabalhando com um ou mais níveis – e, assim, neste momento, você simplesmente tem que “escolher a roupa adequada” – ou escolher os melhores professores para cada um dos níveis. Encontre um bom exercício físico que o agrade, e um programa nutricional decente. Tente empenhar-se em uma boa prática psicoterapêutica – poderá ser simplesmente escrever seus sonhos ou fazer parte de um grupo de debate. Tente uma boa prática de meditação e preste um serviço comunitário. Não quero que isto pareça uma coisa terrivelmente fascista – mas tente, o melhor que puder, empenhar-se totalmente a fim de despertar totalmente.

P: Pelo menos há professores que estão buscando essa prática integral?

KW: Sim. Há alguns escritores que, hoje, estão enfatizando a importância de uma abordagem integral, e embora todos ainda estejam num nível muito preliminar, são um bom lugar para começar. Você pode tentar The Life We Are Given de Michael Murphy e George Leonard, What Really Matters de Tony Schwartz, Paths Beyond Ego de Roger Walsh e Frances Vaughan e o meu The Eye of Spirit.

Mas a idéia é muito simples: praticando somente em um nível, seu ser não se iluminará totalmente. Se simplesmente meditar, seu “lixo” psicodinâmico não irá automaticamente embora. Se você só meditar, seu emprego ou seu relacionamento com sua esposa não irão, automaticamente, melhorar. Por outro lado, se só fizer psicoterapia, não pense que sentir-se-á aliviado da carga da morte ou do medo. Dê a Freud o que é de Freud e a Buda o que é de Buda. E, acima de tudo, se dê completamente ao Divino, empenhando tudo o que você é.

Oh, puxa, está parecendo até um comercial dos Fuzileiros Navais: “Seja o melhor que puder”. Mas, realmente, o ponto é que, quanto mais dimensões de si próprio estiverem empenhadas na busca da Fonte deste maluco Jogo da Vida, mais provavelmente irá descobrir o fato excepcionalmente belo de que você, e somente você, é o Autor deste Jogo. E isto não é uma afirmação teórica; é a melhor oportunidade que temos para obter nossa passagem para Atenas.

Um comentário:

Rafael Barletta disse...

gostei da aplicação da marca com fundo azul !! Bem legal!

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