terça-feira, 4 de novembro de 2008

BRINCADEIRA CÓSMICA


KEN WILBER: Sim, exatamente, este é o problema. Você precisa de um “outro”. Assim, se você é o único Ser em toda a existência e você quer jogar – jogar qualquer tipo de jogo – você tem que assumir o papel do outro e depois esquecer que está jogando em ambos os lados. De outro modo, o jogo não seria divertido. Tem que fazer de conta que é o outro jogador com tal convicção a ponto de esquecer que está assumindo todos os papéis. Se você não esquece, não há jogo, não é divertido.

P: Assim, se quer jogar – penso que o termo oriental é lila – tem que esquecer quem você é. Amnésia.

KW: Acho que sim. E este é exatamente o cerne da resposta dada pelos místicos do mundo inteiro. Se você é o Um e – enfastiado da mais pura exuberância, plenitude, superabundância – quer jogar, alegrar-se, divertir-se, então, primeiro, deve manifestar o Muito e, segundo, esquecer-se que é o Muito. De outro modo, não há jogo. Criação (manifestação, encarnação) é o grande Jogo do Um fazendo de conta que é o Muito, por puro esporte e diversão.

P: Mas não é sempre divertido.

KW: Bem, sim e não. O mundo manifesto é um mundo de opostos – de prazer versus dor, acima versus abaixo, bem versus mal, sujeito versus objeto, luz versus sombra. Mas se você quer jogar o grande Jogo Cósmico, aquele que você mesmo criou, o que mais pode fazer? Se não há divisões, nem jogadores, nem sofrimento e nem Muito, então você simplesmente se mantém como o Um e Único, Solitário e Indiferente. Mas jantar sozinho não tem graça.

P: Assim, iniciar o jogo da criação é iniciar o mundo de sofrimento.

KW: Começa a ter sentido, não acha? E os místicos parecem concordar. Mas há uma saída para esse sofrimento, um caminho para livrar-se dos opostos, que envolve o entendimento direto e irresistível que o Espírito não é bem versus mal, ou prazer versus dor, ou luz versus escuridão, ou vida versus morte, ou todo versus parte, ou holístico versus analítico. O Espírito é o grande Jogador que dá origem a todos os opostos igualmente – “Eu, o Senhor, faço a Luz iluminar tanto o bom como o mau; Eu, o Senhor, faço todas as coisas” – e os místicos do mundo inteiro concordam. O Espírito não é a metade boa de todos os opostos, mas sim a essência de todos os opostos, e nossa “salvação”, por assim dizer, não está em encontrar a metade boa do dualismo e sim achar a Fonte de ambas as metades do dualismo, porque, em verdade, é isso que realmente somos. Somos ambos os lados no grande Jogo da Vida, porque – no mais fundo do nosso verdadeiro Eu – criamos ambos os opostos com o objetivo de jogarmos um grande jogo de damas cósmico.

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