sábado, 8 de setembro de 2012

DOS VEDAS E DO VEDANTA




O filósofo Arthur Schopenhauer é bastante caricaturizado por sua ética do pessimismo, uma análise bastante crua e despojada de enfeites da realidade. Para ele, os homens vivem confusos, presos e acorrentados em desejos e anseios, sem se importarem em resolver o problema da existência, este sendo o objeto de estudo do sábio.


O eco que Schopenhauer ouviu dos Vedas deu a ele a garantia de que suas conclusões estavam bem apoiadas e tinham o respaldo de mais de 5.000 anos de metafí­sica e ontologia para lhe confortar.

As primeiras traduções dos textos vêdicos, tais como as Upanishads, a Bhagavad Gita, o Vishnu Purana, entre outros, para as lí­nguas ocidentais, foram recebidas com muito satisfação por ele, que se utilizou de muitos termos sânscritos para expressar suas reflexões.

No parágrafo 115 de Parerga e Paralipomena, ele diz o seguinte: “Os leitores de minha ética sabem que, para mim, o fundamento da moral repousa em última instância sobre aquela verdade que está expressa no Veda e Vedanta pela fórmula mí­stica tat twam asi (isto és tu), que é afirmada com referência a todo ser vivo, seja homem ou animal, denominando-se então o Mahavakya, o grande verbo.”

Mais adiante, no mesmo parágrafo, encontramo-lo exaltando com grande entusiasmo a doutrina religiosa dos brahmanes em oposição a pobreza metafí­sica das religiões tradicionais, citando um terceiro: “Monsieur, c’est la vraei religion!”. My fellow-sufferer, soci malorum, compagnon de misères.

Outro ponto interessante de ligação entre eles é a doutrina do sofrimento do mundo. Nos Vedas encontramos muitas afirmações que indicam que a compreensão correta acerca da realidade deste mundo se baseia em sua temporalidade (asasvatam) e em sua condição como um local de inúmeras misérias (duhkalayam). Essa é a compreensão a priori que devemos ter sobre o mundo para não alimentarmos falsas esperanças e ilusões quanto a este. Todos os seres nascem confusos e iludidos pelo prazer e pela dor. São forçados a envelhecer, adoecer e morrer. Seus planos são frustrados pela natureza material, seus apegos arrancados e seus medos muitas vezes realizados. Isso não é um motivo de lamentação para um sábio, mas o é apenas para os tolos, que se identificam com a matéria e suas transformações. Este mundo é o samsara, o ciclo de nascimentos e mortes.

Schopenhauer prescreve uma ética de resignação e profunda sobriedade nos tratos com o mundo e as outras pessoas. O sofrimento é inevitável. Pode ser causado por nosso corpo ou nossa mente, por outros seres vivos, ou por fenômenos naturais que estão além de nosso poder. “Pois o mundo constitui o inferno, e os homens formam em parte os atormentados, e noutra, os demônios.” (p. 156). Reconhecendo tal caracterí­stica e vivenciando-a, a pessoa pode começar a se interessar em buscar o Absoluto. Enquanto está enamorada das ilusões da matéria, tal empreitada torna-se escusa e distante. O papel da filosofia é conduzir os homens à mais perfeita saúde do espí­rito e à consequente felicidade que dela advém. Somente aquele que está a par do funcionamento da “máquina do mundo” pode chegar a tal objetivo, e não aquele que, até mesmo conscientemente, busca se enganar e ser enganado com a falsa propaganda de uma felicidade materialista. Para concluir, seu conselho final quanto a isto é: “Para a paciência na vida e para suportar serenamente os males e os homens, nada pode ser mais útil do que uma recordação budista deste tipo: “Isto é o samsara; o mundo do prazer e do desejo, e portanto, do nascimento, da doença, da velhice e da morte; é o mundo que não deveria ser. E isto aqui é a população do samsara. O que melhor podeis esperar.” Quero prescrever a cada um que repita isto quatro vezes por dia, conscientemente.”

Fonte: http://www.ekadantayoga.com.br/schopenhauer-e-a-filosofia-dos-vedas.html



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