O INDIVÍDUO REALMENTE EXISTE?
(Proposições quânticas na espiritualidade)
Tudo começou com Max Planck, em
1900. A física clássica Newtoniana nos legou 3 preconceitos que os atuais
físicos quânticos contrapõem. Estes são: 1) O Determinismo: que é o conceito de
que são as leis físicas que determinam todos os movimentos. 2) A localidade:
que todas as relações de causa e efeito estão acontecendo dentro do tempo e do
espaço. 3) A objetividade: que os objetos e coisas são separados e
independentes uns dos outros.
Há 2.600 aos atrás, Buda ensinava
seus discípulos que “eventos acontecem, mas não há nenhum indivíduo separado a
fazê-los”. Devemos nos deter no ponto “nenhum indivíduo separado”. Ou seja, há
causa de muita controvérsia na filosofia, psicologia e hoje na neurociência a
questão de indivíduo existir ou não existir. Mas a questão, essencialmente, não
é esta. O fato é que, se olharmos para as três leis quânticas postuladas acima,
fica mais fácil compreender.
Nenhum indivíduo pode existir
separado, logo a ideia de um indivíduo independente é realmente apenas uma
ideia da mente. Estamos em uma sopa quântica, onde todos os eventos funcionam
como uma teia gigantesca, onde todas as partes se relacionam umas com as outras
(em essência, não são partes, mas quando vistas por um observador, tornam-se
partes). Quando há um observador olhando para esta teia, o colapso quântico
cria a imagem de um indivíduo separado de um objeto, fazendo aparecer a relação
sujeito que vê e objeto que é visto. Sem você como um observador, há apenas
ondas de potencialidades. É sua mente que converte as ondas (campo
vazio-luminoso) em alguma coisa (mundo manifesto). Dito assim, entendemos
melhor quando os mestres falam do vazio.
Quando Buda nos diz que somos o Puro
Vazio, devemos entender que este Vazio é a Pura Potencialidade da Consciência
Universal (campo das possibilidades), ao qual fazemos parte porque estamos
dentro dele, e em realidade unos com ele. Como corpos, aparecemos dentro dessa
Consciência. E neste exato momento, a Consciência pode ser vista como uma tela
de computador onde aparecem imagens. Essas imagens aparecem na tela, e surgem
da tela. Imagens e tela não podem ser separados. Consciência Universal (campo
de possibilidades) e Consciência Individual (mente) funcionam não-separados,
como a analogia do oceano e da onda. No Vedanta hindu, os textos dos
Upanishades dizem que a “parte” é igual ao “todo” em sua essência. Toda a parte
carrega a marca do todo. Em outras palavras, Brahman é essencialmente igual ao
Atman. Na terminologia cristã, usou-se a simbologia do Pai e do Filho, sendo as
palavras de do mestre: “Eu e o Pai Somos Um”.
Dessa forma, compreender que o
indivíduo existe e não existe, ao mesmo tempo, fica um pouco mais compreensível,
embora a mente não consiga engolir esta declaração, afinal ela, que vive no
campo da dualidade, sente dificuldade em compreender que opostos possam existir
simultaneamente. Aristóteles pode ser muito mais aceito pela mente que
Heráclito.
Mas o fato é que esta Consciência
é tanto transcendente ao espaço-tempo como imanente a ele. Está e não está. Existência
e não-existência dançam dando base à declaração de Buda: “O Vazio é Forma. E
Forma é Vazio”. O indivíduo existe do ponto de vista da mente separada, mas em
verdade não existe separado de absolutamente nenhum objeto a sua volta, já que
o seu background é um Campo Único de Possibilidades que chamamos aqui de
Consciência.
Aqui entendemos porque alguns
guias espirituais irão falar do ponto de vista do vazio sobre o indivíduo, e
porque outros irão falar do ponto de vista do ego separado. É uma questão de
metodologia. A abordagens negativa e a abordagem positiva. Apenas abordagens. A
experiência da lua não é igual ao dedo que a aponta. Como negativo e positivo
anulam-se entre si, fique a vontade para flutuar por onde sua natureza se sente
mais atraída. Osho falou de ambos os caminhos, mas tendia a usar uma
terminologia baseada no falso ego, e começar daí sua caminhada. Osho disse:
Comece da sua experiência básica e vá em frente. Mas muitos indivíduos sente-se
inclinados a uma outra abordagem, onde já de saída a não dualidade é explícita,
e este é o caso do Dzogchene o Zen, no Budismo, o Vedanta Advaita - a
desconstrução do eu é o início do caminho. Você já começa compreendendo que o
eu não é independente, nem fixo, nem separado de nada sua volta. O eu é vazio
de substância inerente. O eu é composto e dependente. Digamos que Advaita
comece como o Prajnaparamita de Buda, o Sutra do Coração, onde a noção de que
Vazio é Forma e Forma é Vazia é convidada a ser contemplada profundamente.
Para encerrar, lembramos que no
novo paradigma da ciência que estuda objetos subatômicos, há uma premissa
básica: é a Consciência e não a matéria a base da Vida. E como nada acontece
fora deste campo de possibilidades que é a Consciência ou Inteligência, como
dizia o neoplatônico Plotino, a relação entre o sagrado e o mundo, entre o
divino e você não é dualista. Eis o por que de chamarmos esta visão da unidade
da vida de não dual. Ela parece dois, mas em essência é o Um aparecendo como
dualidade.
Nesse ponto é que chegamos na
beleza e profundidade do caminho espiritual profundo e meditativo. Com algumas
pessoas, acontece esta história que se chama “caminho espiritual”. O sábio
iluminado Ramana Maharshi propõe o método investigativo “Quem Sou Eu?”, para despertar
a observação, o Eu Real - observação
vazia de conteúdo que percebe e no qual acontece pensamentos. Ao mesmo tempo o
reconhecimento de que esta observação é nada separada desses pensamentos
transitórios que surgem e desaparecem no campo da Consciência. Há muitas
abordagens místico-experimentais. Com Osho e Buda, a ênfase dada é na
meditação, no silêncio. O ponto central é que a EXPERIÊNCIA da não-experiência é
o que realmente cristalizará em você este insight tão profundo e aparentemente
paradoxal e contraditório. Como dizia Osho, o meditador estará entrando no
campo da supralógica, além da lógica binária proposta pela mente. O meditador
passa a resonhecer a sabedoria imediatamente, porque seu insight é direto, quando
não há obstáculos mentais no caminho.
A ênfase de alguns mestres em
dizerem que você não existe é apenas metodologia inicial, um primeiro passo
para apontar mais enfaticamente o vazio da consciência. Após resgatar a
observação, num segundo momento tudo começa a ser visto como inseparável, onde
tudo é nada e nada é tudo, onde forma é vazio e vazio é forma. A grande magia
da vida é compreendida. Tony Parsons diz: “A vida vai continuar jogando com
você, derrubando-te uma e outra vez, até que a unidade tome o controle e só
haja isso. Então a vida continuará como sempre mas já não haverá ninguém que
possa ser derrubado”.
Os físicos se surpreendem
maravilhados como ao ler uma poesia, quando estudam a relação partícula/onda,
por exemplo, as ondas podem aparecerem em dois lugares ao mesmo tempo e os
elétrons podem saltar de uma órbita atômica para outra sem passar por espaços
intermediários. O milagre da existência é muito mais profundo do que nossa
razão possa compreender. Eis porque o fundamento e a resposta para a Vida é
sempre o Amor. Mas o Amor só pode ser compreendido completamente no salto
quântico da mente para o coração, da mente para a não-mente. O Amor é a
resposta para a Vida. É a descoberta e o despertar de que matéria, energia e
consciência são Um. Osho disse: “A vida não é algo a ser explicado mas um grande mistério a ser vivido”. Simplesmente Amor.
Sambodh Naseeb
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