domingo, 2 de março de 2008

Materialistas e Espiritualistas

Qual a diferença básica entre o que chamamos de espiritualistas e materialistas?

Costumamos dizer que o mundo se divide em espiritualistas e materialistas. Espiritualistas são considerados aqueles que buscam a felicidade na interioridade e em Deus, enquanto materialistas julgamos aqueles que buscam a felicidade do lado de fora, nas coisas do mundo, no dinheiro, nos bens materiais, nas novidades que aparecem diante de nossos olhos e sentidos. Mas vamos ver um pouco mais atentos essa questão.

Espiritualistas e materialistas são dois lados de uma mesma moeda. Aqueles que buscam dinheiro também estão buscando iluminação ou felicidade, mas através de algo externo a eles. Aqueles que estão buscando Deus, a grande maioria das pessoas que busca a Deus, está buscando uma “idéia” de Deus, que foi manufaturada na mente coletiva, que foi inventada pelo ser humano e pela cultura religiosa humana. E é por isso que a busca por Deus tem sido tão vazia, tão inoperante, tão desgastante para a humanidade. Pois buscar sexo ou buscar Deus tem algo de muito comum. Buscar dinheiro ou buscar ser espiritualmente mais elevado que outros tem essencialmente algo em comum: o desejo de mais, o desejo de superioridade, ou como diria o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “O desejo de Poder”.

Ora, quem deseja ser forte é o fraco. O forte é forte naturalmente e não precisa se comparar ou lutar para isso. O fraco tem complexo de inferioridade. O fraco tem desejo de se tornar poderoso, perfeito, o melhor de todos. O fraco tem um ego ferido, e este ego ferido fará loucuras para aparecer em destaque. O forte não precisa aparecer. Ele naturalmente se sente em sintonia com a existência, espontaneamente está tranqüilo e compreende a si mesmo como é, portanto não precisa provar nada para ninguém.

Portanto, espiritualistas e materialistas estão perdendo um ponto importante: a busca não é por algo, a busca não é por uma idéia, a busca não é por alguma coisa que esteja distante. A busca não pode ser objeto de desejo. Desejar Deus ou desejar sexo e dinheiro é a mesma busca. Pode ser que desejar Deus seja mais virtuoso moralmente perante os outros, mas em verdade é movida por um desejo. Os grandes mestres ensinam claramente: é o desejo a causa do distanciamento de si mesmo. Então significa que você não deve mais ter desejos? Não. Apenas significa que você precisa observar que toda busca é uma busca por algo externo a você. Significa que a mente busca, mas quem percebe a mente buscar? É o envolvimento com a mente que faz com que você se identifique com a busca. E a paz interior está exatamente onde você está, nenhum palmo a frente.

Por que é tão difícil esta paz? Porque ela está distante? Exatamente o contrário: ela está muito perto, tão perto, que não pode ser vista com os olhos. Tão perto que fazemos vista grossa diante disso. É como se estivéssemos procurando nossos óculos, e eles estivessem o tempo inteiro em nosso nariz. Procuramos sem cessar por toda a casa, para enfim, nos darmos conta de que estamos já com eles.

A paz existe da mesma forma. Ela é parte da nossa natureza essencial. Mas porque não estamos conscientes disso? Porque de alguma forma nos hipnotizamos em acreditar que ela está distante. Ninguém nos diz que a paz está ao nosso alcance agora. Assim, acreditamos que “um dia” a encontraremos. Mas este dia nunca chega. Se você continuar adiando, este adiamento faz parte da programação de não achar paz nenhuma. Não há futuro. Toda a imaginação está acontecendo agora mesmo. Quando penso no futuro sei que é minha mente que está pensando no futuro. Meu corpo não sai do aqui-agora. Portanto, o futuro está aqui agora. E quando penso no passado, sei que minha memória não está no passado. Minha memória opera no presente. Logo, meu passado também está aqui-agora.

A paz que buscamos está exatamente onde a imaginação cessa e a memória não opera.

Esta paz de espírito é a raiz fundamental de nosso ser. Sem esta paz, nosso corpo e nossa mente não funcionam. É por isso que tantas doenças têm aparecido nos nossos tempos. São doenças que surgem no corpo e na mente pela falta de paz. Quanto mais distante da paz do espírito, mais a freqüência da mente e do corpo adquire vibrações desgovernadas. Tudo que existe está em movimento e se move em vibrações. Nosso corpo e nossa mente são vibrações. Pensamos que nossos corpos são sólidos, mas se estudarmos cientificamente isto, poderemos comprovar que nossos corpos são energia em movimento, vibrações se movendo em tamanha velocidade que nossos olhos não podem captar as mudanças contínuas. Percebemos a cada ano que envelhecemos, mas não percebemos isto no dia-a-dia. Há uma ilusão de que somos seres fixos e sólidos, enquanto que na verdade somos vibrações em constante mudança o tempo inteiro. Onde está o nosso corpo de criança? Onde está nosso corpo de adolescente? Nós mudamos o tempo inteiro e mal nos percebemos que nossas mentes, que nossos pensamentos e sentimentos também são mutantes, também são simplesmente “vibrações”.

A mente é um campo de vibrações um pouco mais elevada que o corpo. É por esta razão que a mente não é vista. O corpo é possível de ser tocado, apalpado, reconhecido solidamente. Mas a mente nós conhecemos apenas pelos seus efeitos, não é mesmo? Algum dia você viu a sua mente? Você tem experiência de ter pensamentos, mas não sabe muito bem o que um pensamento é, não é mesmo? Um pensamento é um campo vibracional. A freqüência do campo de vibrações de um pensamento é mais elevada que o campo das moléculas do corpo, e assim, chamamos o corpo e material, e a mente de espiritual. Mas a mente não é espiritual. A mente é vibração. Mais alta, sim, mas também vibração. A mente não é o que sou. O que sou não é uma vibração. O que sou é uma consciência que percebe vibrações. Esta é uma grande diferença!

Há um pouco de confusão por parte de muitos espiritualistas em relação à mente. Hoje em dia dá-se muita atenção ao poder da mente, ao poder do pensamento, chamando isso de espiritualidade. Mas espiritualidade está acima do nível da mente. A mente é ainda matéria sutil, ainda parte do mundo, parte dos desejos, parte de samsara (a roda a vida e da morte). Os mestres deixam bem claro: para sair do ciclo vicioso da vida e da morte, da cadeia incessante de sofrimento sem fim, é preciso conhecer uma dimensão que está além da mente, que mora no silêncio, na subjetividade do ser, no centro da sua alma.

Naseeb

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